Localizada numa
vertente de declive bastante acentuado, cujo vale bastante
encaixado chega a atingir mais de 1000 metros de altura, a aldeia
de Cabeça apresenta um conjunto de áreas de enorme riqueza em
termos de flora e de fauna. No que diz respeito à fauna,
encontram-se aqui o Javali, Perdiz, Raposa, Coelho Bravo, Melro,
Pintassilgo, Pardal, Tritão, Salamandra e até à algumas décadas
atrás o Lobo. A nível piscícola, caracteriza-se pela Enguia,
Bordalo e a Truta, que encontram nas águas cristalinas e quase
isentas de poluição.
A floresta local é alta, quer pelas macrofanerófitas, quer por
algumas megafanerófitas. Possui dois estratos arbóreos, um
arbustivo e é raramente herbáceo. A folha cai, devido ás baixas
temperaturas de Inverno e à fraca luminosidade, derivada da grande
inclinação dos raios solares. Contudo podemos também encontrar
bastantes espécies pertencentes à floresta Mediterrânea, como é o
caso do Rosmaninho, Alecrim e da Oliveira.
É de salientar também a enorme mancha de Azevinho, existente na
parte umbrica, localizada na vertente oeste do vale, junto à
ribeira. Entre várias espécies, podemos encontrar no local o
Pinheiro Bravo, Carqueja, Medronheiro, Oliveira, Sobreiro, Carvalho
Alvarinho, Silva, Castanheiro, Nogueira, Carvalho Negral e
Alecrim.
A litologia de Cabeça caracteriza-se maioritariamente por rochas
metamórficas, designadamente Xistos mosqueados, Quartzitos e Xistos
argilosos, cujo período geológico data do Câmbrico ao Pré-câmbrico,
bem como alguns afloramentos de granito carregado de sílica.
Contudo, desde o chamado "Povo", começando mais ou menos no largo
da Igreja Nova até à Vinha da Redonda, ocupando 250 metros de
largura e cujo comprimento de 1000 metros se estende até ao cimo do
Souto, a composição é de um granito gnássico muito duro, alcalino e
com forte presença de sílica.
A abundância de precipitação, deriva dos ventos de sudoeste e de
oeste com origem no Oceano Atlântico que ao encontrarem a barreira
orogénica adjacente, descarregam a sua humidade sob forma de
precipitação. Contudo, embora a precipitação se encontre entre os
1400 e 1600mm anuais, apenas 3 ou 4% dessa mesma é aproveitada para
rega ou consumo. De facto, a grande maioria deriva para o
escoamento superficial, e para a evapotranspiração cujos valores se
situam entre os 600 e 700mm anuais, e uma pequeníssima parte para
os aquíferos. Estes são muito fracos em temos de capacidade de
carga e pouco abundantes, dada a litologia cuja meteriorização
originam argilas impermeáveis, que impedem que a água se
infiltre.
Durante o ano, os contrastes térmicos são bastante acentuados,
atingindo por várias vezes temperaturas negativas no Inverno,
temperaturas na ordem dos 40ºC no Verão, quando as condições
sinópticas são favoráveis.
A RIBEIRA
A ribeira da Cabeça integra-se no curso da Ribeira de Loriga.
Escorre desde o Covão do Meio, a 1800 m de altitude, e desce pela
Garganta de Loriga.
Bebendo o néctar do degelo, goteja sobre Loriga, gorgoleja no sopé
da Feiteira e serpenteia pelas fragas do Serapitel, num sussurro
quase imperceptível, só quebrado pelo frigir de pequenas cascatas.
A partir daqui, entra no limite da Cabeça, espraiando-se e
rebordando as montanhas da Feiteira e da Barroca Seca. A partir
daqui pode-se entrar no leito da ribeira, "ao cachapuz" (termo
local: andar ao "cachapuz" - Corta-mato pelo leito da
ribeira). Seguindo pelo Ramil, Outeiro Barreiro e Fontanheiras, até
ao Ramalhão chega-se extenso areal do açude do Córatão, onde a água
se espraia numa imagem bucólica de impressionante beleza, recheada
de estruturas naturais que reclamam a construção urgente de uma
praia fluvial.
Continuando pela Fanjã até aos açudes do Poço da Ponte e das
Vinhas da Ribeira, rodeada de Salgueiros, Freixos, Castanheiros,
Azevinho e outra vegetação luxuriante, a ribeira gorgoleja
serenamente ao longo do Outeiro da Várzea, de rebolo em rebolo, até
à Barroca da Feiteirinha, movendo rodas e pedras de moinhos
ancestrais. Transposto o sítio do Penedo, a ribeira abandona o
limite da Cabeça, rumo ao Casal do Rei, Muro e Vide.
A água é límpida, cristalina e rica em bogas, bordalos, trutas e
enguias.
A CACHE
A cache foi colocada num dia de trabalho de campo do
Projecto
TERRISC, do qual a freguesia de Cabeça é uma das áreas de
estudo e onde existe uma 'parcela de erosão', que visa contabilizar
e caracterizar a erosão hídrica em socalcos agrícolas.
O acesso à cache faz-se pelo caminho de terra (só transitável a
pé!) localizado em N 40º 19.284' W007º 44.163'. O estacionamento
não é fácil, visto que este acesso fica quase em cima de uma curva,
por isso, muito cuidado!
Deixando para trás o alcatrão e seguindo pelo acesso referido,
siga sempre em frente até localizar uma cortada à direita, estreita
e com escadas, entre duas casas de xisto. Siga por aí, mesmo que
tenha de molhar as solas. Se tiver sorte, é isso que vai acontecer
(!), pois irá assistir ao vivo à movimentação de águas entre as
"levadas", que transbordam para os caminhos regularmente.
Aquando da colocação da cache, todo o percurso para baixo foi feito
em cima de água que escorria pelo caminho, mas quando voltei para
cima, o piso estava (quase!) seco, porque as "levadas" são
reguladas por um rudimentar sistema de mini-barragens de madeira
que tinham sido alteradas, (graças, creio eu, a uma simpática anciã
que nos viu passar para baixo e teve pena de nós!). Assim, se
descer quando houver água no caminho acrescente uma estrela à
dificuldade, pois é muito fácil "dar um bate-cú-no-chão". Leve
calçado apropriado! No entanto se o caminho estiver seco, qualquer
pessoa palmilha as três centenas de metros necessárias.
A partir da cortada à direita é sempre a descer até avistar a
magnífica ponte de xisto (não catalogada pelo IPAR!!!) que liga as
duas margens da ribeira. Chegando à ponte, siga o GPS.
A cache é uma pequena caixa (7,5cmx5cmx5cm) com um mini-log book
(recuperado de um outro projecto falhado :))) e os itens habituais
para troca.
Faça a cache, tire fotos e deixe tudo como estava. Lembre-se que o
local está assim à muitos anos, e que já estava abandonado antes de
haver geocaching, mas relativamente preservado e que é assim que
deve continuar.
Depois de fazer a
cache, aventure-se "ao cachapuz" pela ribeira. Apesar de não
haverem PR's marcados, irá descobrir sítios fantásticos para
passear por entre socalcos agricultados e outros abandonados com as
típicas casas de xisto que hoje em dia apenas albergam fantasmas e
memórias de outros tempos.
Se necessitar de carta militar da zona ou ortofotomapa para se
aventurar, contacte-me por email. |
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