Tributo aos Avieiros de Azinhaga
Fugindo a Invernos rigorosos e ao mar alteroso a que chamavam Mar Cão que os impedia de pescar, homens e mulheres da Praia da Vieira de Leiria, desde finais do séc. XIX procuraram no Tejo o seu sustento.
Tendo encontrado no Tejo abundância de peixe, principalmente o Sável que abundava naquelas águas, estabeleceram-se gradualmente nas suas margens e afluentes. Começaram então por vir no Inverno para o Tejo pescar o Sável, a Saboga e outras espécies de água doce. Terminado o Inverno regressavam à Praia da Vieira onde voltavam a pescar no mar. Durante décadas esta gente dividiu-se entre a arte xávega da Sardinha e arte varina do Sável. Deu-se assim início a uma migração sazonal de pescadores que por serem da Praia da Vieira foram chamados Avieiros ou Ciganos do Tejo.
Pouco a pouco, muitos desses pescadores passaram a residir permanentemente na Borda-d’água deixando de regressar à sua terra natal. Assim, nasceram pequenas comunidades de pescadores espalhadas ao longo do Tejo, pelo menos desde a Chamusca até à Póvoa de Santa Iria.
As famílias
Em Azinhaga instalaram-se nas Moitas três famílias: os Narcisos, os Lobos e osJaquetas. Mais tarde e pelo casamento, juntaram-se outras famílias como osFernandes, os Moreira, os Petinga, os Sequeira, os Sousa, os Tocha, os Toito, osTomáz, entre outros que se fixaram nas margens do Almonda junto ao Porto Cação.
As casas
Viviam em barracas de madeira e canas, cobertas com palhas ou caniços e construídas em cima de estacas (a madeira utilizada era resgatada nas enchentes, pois dinheiro para a comprar não existia). As estacas suportavam as barracas e eram a sua salvação contra as cheias do rio.
A pesca
Aquando da companha do Sável que começava em Janeiro e ia até Junho estas gentes estavam aos quinze dias sem vir a casa, assim sendo a bateira era o seu lar e o seu meio de transporte. Na proa da bateira era colocado um toldo de serapilheira untada com pês negro para o impermeabilizar para assim, servir de abrigo contra as intempéries. Era aqui que toda a família dormia, depois da emparadeira mais ou menos a meio, era colocado um monte de areia para que pudessem fazer lume, servia de cozinha, a parte da ré, era a oficina da pesca e onde se guardavam as redes.
As bateiras são belos barcos que têm a proa e a ré em bico e viradas para o céu, medindo entre quatro metros e meio a sete metros. Por fora, são pintadas a pês negro e por dentro com cores vivas e alegres. A vantagem em terem a proa e a ré em bico é o manuseamento do próprio barco.
Na faina pescava-se de noite, a mulher remava, ele largava as redes ou ia à vara como compete ao homem. Pela manhã a mulher ou uma das filhas ia vender o pescado na própria aldeia, no Pombalinho na Golegã, e até mesmo em Torres Novas ou no Entroncamento onde montava uma banca no exterior do mercado.
As redes utilizadas na faina eram designadas de Varinas, Savaras, Sabogaras, Tremalhos, Boterões, Galrichos, Narsas, Tarrafas, Tranquetes e Tesões.
Na altura do Sável toda a família funcionava como uma companha e nalguns casos chegavam a contratar pessoal da aldeia para esta faina, pois utilizavam as chamadas Varinas que eram redes de arrasto muito grandes
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