O último Oleiro da Árgea
O Fado é o património imaterial mais conhecido em Portugal, mas este tipo de património é muito amplo, abrangendo o folclore, tradições, trajes, danças , jogos tradicionais, gastronomia e artesanato... Está intimamente ligado ás pessoas e ao lugar onde de vivem. Em Árgea, a olaria é provavelmente o património imaterial mais marcante. No entanto, devido ao progresso civilizacional está em fase de extinção. Já não existe pessoas que continuem a trabalhar neste oficio histórico. Desta forma é impossível abordar a temática sem mencionar o senhor António Rosa, oleiro, reformado, com 87 anos, ainda possui uma pequena oficina de oleiro, com um pequeno espolio, que tem imenso prazer de mostrar. De resto, o local é reconhecido e divulgado pelo Município de Torres Novas, existindo placas informativas em azul, que indicam a diração da aldeia como "olaria". De resto, Árgea é sinónimo de olaria... Mas na realidade as placas estão obsoletas, pois, já a mais de 5 anos deixou-se de fabricar peças de barro.
Saber mais sobre a olaria de Árgea está ao alcance de quem realizar esta cache. De certeza que não vão ver, o trabalhar do barro, mas podem falar com os habitantes e visitar a antiga olaria, ver a roda do oleiro, o fogão para cozer o barro e conhecer os processos de fabrico tradicionais.
IMPORTANTE: A cache não tem intuito comercial, tem, essencialmente, a intenção de divulgar e preservar o património imaterial que é a olaria em Árgea, que é o bem raro. Por isso, espero, que em caso de visita, não tentem comprar, nem aceitem ofertas de peças de olaria.
Olaria em Árgea
Até ao século XIX, a agricultura e a olaria eram as actividades económicas dominantes em Árgea. Nos finais do século XVIII e inícios de XIX, segundo, o “Livro Juramento da Confraria do Santíssimo Sacramento de Árgea”, existia 65 oleiros. Em 1914, o “Annuário Comercial” regista a existência de 9 oleiros.
Num ambiente rural agrícola, não mecanizado e com a ausência da industrialização, a olaria florescia, impulsionada, por um lado, pelas grandes jazidas e argila que forneciam a matéria-prima gratuita e por outro lado, pela necessidade e dependência quase total dos artigos de barro na vida domésticas das populações. Árgea neste tempo era considerada um dos centros oleiros mais importantes de Santarém. Nos finais do século XIX e inícios de XX, existiam 18 olarias, onde naturalmente trabalhavam avós, pais, filhos e aprendizes.
Nas oficinas modelavam-se alguidares, panelas, tachos, caçarolas, púcaros, cafeteiras, fogareiros, bacios, tarros, almotolias, asados, infusas, vasos, todos artigos fundamentais na vida doméstica. Curiosamente, todos estes artigos, são utilizados na actualidade, mas são feitos de outros materiais, metal e plástico, a decadência da olaria advém essencialmente deste paradoxo. Do confronto da industrialização e do artesanal e da vitória da tecnologia.
António Rosa, o último oleiro
António Rosa, 87 anos, nasceu e viveu em Árgea, foi oleiro desde dos 10 anos de idade. Casado, teve vários filhos, mas nenhum seguiu a profissão de oleiro. António Rosa nasceu no seio de uma família ligada à olaria, desde muito cedo iniciou o trabalho do barro. Tinha sete irmãos (4 rapazes e 3 raparigas), apenas ele e o irmão mais velho, José Rosa (já falecido), aprenderam e dedicaram toda a vida à arte.
António fez todo tipo de artigos de barro, desde alguidares, tachos, vasos, jarras, bebedores para coelhos e para aves, garrafões… toda a louça que trabalhou vendeu, fornecia lojas principalmente no concelho de Torres Novas, vendia no mercado em Torres Novas e tinha clientes que revendiam o produto por todo o país. Participou em feiras tradicionais, exposições e fazia demonstrações para escolas, em Torres Novas, no Entroncamento, na Golegã, em Pombal… E participou em programas de televisão, algo que considera uma experiencia inesquecível. Para além de oleiro, foi capelão, onde tocava os sinos da igreja da Árgea e foi músico na Sociedade Musical Argense, tal com o seu irmão mais velho José Rosa.
Actualmente, é o único oleiro a residir em Árgea, deixou de trabalhar o barro acerca de 4 ou 5 anos, devido a debilidades físicas provocadas pela idade avançada. No entanto, mantém ainda, a sua oficina aberta a todo e qualquer visitante que tiver interessado em conhecer as suas peças e as suas histórias.
(Não é inteiramente verdade, seria injusto não mencionar o senhor António Cardoso, de 85 anos, também foi oleiro, que viveu em Árgea, no entanto actualmente encontra-se a viver num lar de idosos fora da aldeia. Não tenho conhecimento, se ainda existe a sua oficina de oleiro).
Fontes de textos e imagens: Livro: Árgea, história e Património, Torres Novas, 2005 de Maria Maia, Helena Poutout e Luís Batista. Site: cm-torresnovas.pt