Embora o Saldanha seja uma praça emblemática de Lisboa, para além da própria estátua esta zona (bem como a Avenida Fontes Pereira de Melo) durante muitos anos conheceu também ela própria um outro símbolo: João Serra, mais conhecido pelos Lisboetas que ali passavam de noite, como o Homem que diz Adeus.
Sobre ele escreveu Sofia Jesus, no Diário de Notícias do dia 21 de Setembro de 2003:
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Quem não conhece o Homem que diz Adeus...
Para quem não o conhece, é imperativo passar no Saldanha por volta das 23h e disfrutar de um momento que já faz parte da "nossa" cidade! Como é possivel um simples gesto proporcionar um momento, apesar de um pouco "estranho", agradável para quem passa... Afinal se não fossem estas "pequenas" diferenças, a vida seria sempre igual...O homem que diz adeus. É ele o homem que noite após noite acena aos carros que passam na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. É por ele que tocam as buzinas, que se atiram beijos e sorrisos, que se gritam «boas noites!» e «adeus!», numa «onda de comunicação» que já dura há três anos e que nem sequer ele sabe explicar muito bem como começou.
Numa cidade de estranhos em mundos fechados, este é o seu «milagre». E é também o seu remédio. Há quem lhe chame o «senhor do adeus». Mas «senhor» é coisa que detesta que lhe chamem.Aos 72 anos, João Paulo Serra tem a inocência de uma criança, o espírito de um jovem, mas o olhar nostálgico de um ancião que sente «ter aprendido com a vida tarde de mais». A sua roupa clássica e a ondulação do cabelo grisalho disfarçada com gel, dão-lhe um ar meio aristocrático, que já faz parte da paisagem do Saldanha. Todos o conhecem e quem trabalha nas redondezas sabe o seu percurso de cor.
«Chega por volta das onze, meia-noite... Começa pela zona do Monumental, vai descendo a rua até ao Marquês e depois sobe, parando sempre em pontos estratégicos. Nunca falha.» Arménio é chefe de mesa na marisqueira Maracanã e já lhe serviu alguns jantares. «É muito simpático. Quando passa aqui, acenamos-lhe pela janela. Só não sei: por que é que faz isto?»João começa por dizer que não sabe bem, mas, a pouco e pouco, interrompendo sempre para acenar, vai desvendando o mistério.
Tudo começou há três anos e meio, depois da morte da mãe, com quem vivia. Precisava de se distrair, incomodava-o a ideia de estar sozinho em casa. Um dia, aconteceu. Já reparara que as pessoas o cumprimentavam sem razão, nos centros comerciais e, sem saber como nem porquê, surgiu o primeiro aceno na estrada. Depois veio outro e outro, e o acaso virou fenómeno.
«No início era só rapaziada nova, mas depois contagiei todo o tipo de gente», explica sem esconder um certo orgulho.
Graças ao seu «milagre», já deu entrevistas para a televisão e para os jornais, apareceu em dois filmes e até num teledisco. «Sempre quis ser actor, mas nunca me deixaram...». Ou nunca teve coragem de tentar.Algumas dezenas de acenos mais tarde, já não é um João risonho e despreocupado, «com imensos amigos» com quem vai «ao teatro e ao cinema», que fala por detrás dos óculos de massa negra. Nos olhos cinzentos, estão duas lágrimas contidas. Pelo passado, pelo presente e por um futuro que não chega.
Com um raciocínio de fazer inveja aos mais novos, o louco, o excêntrico, transforma-se lentamente num avô contador de histórias, que lê Agatha Christie para combater o medo ao andar de avião, que não tem telemóvel porque detesta máquinas e que não vê televisão.João nasceu no seio de uma família muito rica. Até aos dez anos, viveu num enorme palacete da Tomás Ribeiro, cobiçado mesmo pelo próprio Gulbenkian. «Que saudades tenho desse tempo... A casa estava sempre cheia de família e amigos...».
Mimado desde bebé, fez a instrução primária toda em casa, com um professor particular, pois no primeiro dia de aulas no Colégio Parisiense chorou tanto, que os pais não tiveram coragem de o mandar de volta. «Fui criado numa redoma de vidro», confessa, explicando:«Naquela época era tudo muito diferente, havia muitos tabus.» Depois do divórcio dos seus progenitores, quando tinha 13 anos, João foi morar para o Restelo com o pai. Por ele, inscreveu-se em Direito, mas depressa desistiu, «era muito chato». Depois de uma igualmente curta passagem pelo curso de Histórico-Filosóficas, o pai, «que não sabia o que fazer» com ele, mandou-o para Londres, com o irmão.
«Foram três anos fantásticos. Tinha um grupo de amigos fabuloso, com quem viajei imenso.
Teria lá ficado, se não fosse tão agarrado à família...» Sem quase pôr os pés nas aulas, regressou a Portugal e, depois da morte do pai, pouco tempo depois, foi morar com a mãe, de quem não se separou até ao último dia da sua vida. «Viajámos muito os dois. Todos os anos íamos a Paris e Madrid. Conheço a Europa inteira, excepto a Grécia...» E o olhar perde-se num momento só dele, como se pensasse alto. Quando a mãe morreu, «ficou desasado». E talvez por isso esteja todas as noites a «comunicar».
Admite que o que faz «não é muito normal», mas não passa sem isso. É o remédio que lhe permite disfarçar a solidão que o consome e o faz olhar para o passado com arrependimento, por não ter ousado viver a sua vida em vez da dos outros.«Às vezes penso que foi tudo inútil...»
No baú dos sonhos perdidos, jaz o curso que não tirou, o trabalho que nunca fez, os filhos que não teve e, pior, o grande amor que nunca conheceu. «Sinto-me só. Incompleto. Como se algo estivesse a falhar.»
E assim lacrimeja quando vê um casal idoso de mãos dadas, ou quando dois rapazes, que diz «reconhecer do subconsciente», param o jipe para tirar uma fotografia com ele. «Encontramo-nos no céu», repete, aludindo ao que um diplomata ucraniano lhe disse uma vez.
O homem do lixo atira-lhe o derradeiro aceno da noite... "
Quando questionado, facilmente definia a solidão:
"Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias da casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", disse numa entrevista à revista "Única", do Expresso.
"Venho para a Praça Duque de Saldanha desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. (...) Estou sujeito a que me chamem maluco, mas não me importo. Da minha solidão sei eu", acrescentava.
João Manuel Serra era também um amante de cinema. E todos os domingos ia ao El Corte Inglés assistir a um filme na companhia de Filipe Melo, músico de jazz e realizador, e Tiago Carvalho, fazendo posteriormente um comentário do filme no blogue "O Senhor do Adeus".
João Manuel Serra, o "Senhor do Adeus", "deixou de nos acenar" aos 79 anos, deixando Lisboa a recordar com saudade esse seu tão simples, mas tão terno gesto!
Esta cache serve então para o homenagear, uma vez que acreditamos que os Lisboetas não o esquecem. A mesma só faria sentido aqui, na Praça do Saldanha, onde durante noites a fio, ele dizia adeus a quem passava.
Exisitiram duas caches, a primeira em versão tradicional, de homenagem O Homem que diz Adeus e de seguida uma outra versão Mistério O Homem que diz Adeus v2 que nos levava a conhecer o João e facilmente pelos logs poderão ver a espectacular mas humilde e sábia pessoa que era este homem.
Já após o seu falecimento, dois eventos decorreram, organizado pelos mesmos owners das caches anteirores, com a iniciativa de manter acessa a chama do João, quanto mais não seja por uma noite no ano:
Adeus ! (evento de 2010), Adeus ! (evento de 2011) e a Adeus ! (evento de 2012)
Que nos possamos também ajudar a lembrá-lo com esta cache, permitindo levar um sorriso a quem dele se recorda, e dar a conhecê-lo a quem não teve esse privilégio.
Para quem não conhece, existe um fado de Marco Rodrigues (com a participação de Carlos do Carmo), que relembra o João, no seu passeio diário, e a sua imagem como simbolo da noite naquela zona: O Homem do Saldanha
E como ele frequentemente referia, que não dizia adeus a quem passava, mas sim olá, aqui fica a nossa mensagem:
Olá e até sempre João Serra!!
This cache pretends to honor João Serra, who was knew by Lisbon people, as "The Man that says goodbye" or "The Saldanha Man", refering to the square where he used to be.
Usually, he come to this famous Lisbon Square, just to saying goodbye, to everyone that pass by in the street. Someone thought he was a crazy man, but after a short talk, everyone could know how humble and wise person João was.
A rich but lonely man, he created this habit of being there, in Saldanha Square, every single night, just to wave and say goodbye, bringing a smile to everyone that passes by.
There was two caches, in this area, that made the Lisbon Geocachers contact with João. The first one was traditional, O Homem que diz Adeus and afterwards there was a Mystery one O Homem que diz Adeus v2 where it was necessary to take a picture with João to log it. Everyone that made it, don't regret it. Not only he was everytime avaiable to take pictures, but also to talk a little.
João physically said goodbye to city of Lisbon for the last time at the age of 79, in 2010
After his death, there were 2 event caches in Saldanha Square, remembering João, and his simple gesture, at least a night in the year:
Adeus ! (2010 event), Adeus ! (2011 event) and Adeus ! (2012 event)
We brought here this tribute cache, to Saldanha Square, the only place where it makes sense, since it was where that everyone could see João waving to all those who passed by. It make us think how a simple wave to the people that passes by, can change a little bit our city life.