Gaia, rainha das Astúrias (ou de Leão),
mulher de D. Ramiro, aí pelo ano de 842 - 850. Bela, de aparência
frágil mas sedutora, Gaia era uma escrava dos caprichos do seu rei,
que apenas via nela um objecto de prazer e diversão, não tendo
nenhuma espécie de respeito pelos seus sentimentos e desejos.
Gaia sonha com um grande e verdadeiro amor.
Longe, na margem esquerda do Douro, num alcácer (castelo) perto da
foz do rio (Lugar do Castelo), habita o rei mouro Abencalão
Alboazar, devoto de Allah, exímio no manejo da cimitarra (espada).
Aprecia a beleza, vive esteticamente o ambiente.
D. Ramiro e Abencalão tinham negócios em comum. É sabida a
excelência dos cavalos de raça árabe. D. Ramiro recebe então o
mouro em Mier, para tratar de assuntos equestres.
Gaia foge do Castelo
Alboazar faz-se acompanhar da sua bela irmã, Zahara,
e já no palácio repara em Gaia. Fica impressionado com a sua
beleza, e, num impulso incontido, o rei Alboazar colhe a rosa mais
bela e fresca do jardim e oferece-a a Gaia. Ela pressente que é
aquela a rosa dos seus sonhos.
D. Ramiro por sua vez, não resiste aos encantos de Zahara e faz-lhe
propostas amorosas, que ela rejeita. Rapta-a então, e toma-a à
força. Gaia toma conhecimento do acontecido e num impulso decide-se
a seguir o mouro, refugiando-se no seu Castelo.
D. Ramiro, de orgulho ferido, não aceitando que a sua mulher tenha
fugido voluntariamente, decide-se a organizar uma expedição para
trazer a rainha de volta.
Em três galés devidamente equipadas e tripuladas, o Rei das
Asturias dirige-se à foz do Douro e aporta na Afurada.
D. Ramiro aproxima-se sozinho do Castelo, disfarçado de romeiro
(peregrino). Debaixo do burel (hábito) esconde a espada e o corno,
que no momento oportuno servirá para chamar os seus aliados,
comandados por seu filho D. Ordonho, e tomarem de assalto o
Castelo.
Perto do Castelo há uma fonte, onde uma bela odalisca vem encher a
sua ânfora. D. Ramiro pergunta-lhe quem ela é e quem são os
moradores de tal Castelo.
Com os seus lábios de cereja madura, diz-lhe que se chama Ortiga e
serve a nova senhora, a cristã Gaia, bem amada do seu senhor, o
vigoroso e prudente Alboazar.
Vai levar a água, mas apressa-se a buscar mais, pois lhe agradou a
conversa e ali vai ficando junto da fonte.
D. Ramiro porém, tem pressa e, docemente, fá-la recolher ao castelo
com a infusa cheia. Bem no fundo da bilha vai meio camafeu que
discretamente o rei lá introduziu. Sabe que a Rainha tem a outra
metade, pois que com ela o repartira outrora.
A donzela, contrariada, que lhe agrada o romeiro, vai-se para junto
da ama. Esta, ao verter a água no lavatório vê, com surpresa, cair
o que ela logo reconheceu.
- Ortiga! Quem estava na fonte?
- Ninguém, Senhora.
- Mentes. Não negues, que alguém estava na fonte. Diz-me quem era e
saberei recompensar-te.
- Bem, Senhora. Encontrei um pobre doente que me pediu água e eu
dei-lha.
- Ortiga! Vai já procurá-lo e trá-lo à minha presença.
- Eu vou, Senhora.
D. Ramiro reencontra Gaia
E foi. Contou ao fingido peregrino o desejo que a
Rainha tinha de vê-lo. Claro que o Rei acompanhou a esbelta moça.
Gaia reconheceu-o imediatamente.
- Rei Ramiro, quem te trouxe aqui?
- O teu amor, Gaia.
- Pois vais morrer!
O Rei fica, por momentos, estupefacto, mas logo se recompõe.
- Pequena maravilha é, para ti, a minha morte, Gaia!
A rainha manda-o recolher a uma sólida séjana (prisão). Ordena à
serva que lhe negue qualquer alimento ou bebida.
Ortiga, porém, às escondidas, faz-lhe chegar o que pode.
Entretanto, chega Abencalão que andara fora.
Moído de saudades, mal toca nos alimentos e logo procura a sua
amada, na intimidade dos aposentos.
Gaia acaba por denunciar a presença do rei Ramiro, e manda-o chamar
à presença do Mouro. Abencalão, ao saber do intuito do rei de levar
a sua mulher de volta, vê que só lhe resta uma solução, matar
Ramiro. Disse então :
- Obviamente, vieste morrer. Antes, porém, sinto curiosidade em
saber que tipo de morte tu me darias, se me apanhasses em Mier.
Qual seria ?
Rei Ramiro, que estava cheio de fome, aproveitando o
condicionalismo da situação, respondeu-lhe:
- Dar-te-ia um bom capão assado, uma regueifa e um pichel de vinho
fresco, obrigando-te a comer e a beber tudo. Em seguida, abriria
todas as portas do castelo, chamava toda a minha gente para que
presenciasse a tua morte. Depois fazer-te-ia subir ao cimo da
muralha e tocar um corno, como este que aqui tenho, até
rebentares.
- Pois há-de ser essa a tua morte!
O Castelo é atacado
Bem alimentado, cheio de força, atroa os ares com o
cornudo instrumento, do alto do Castelo.
D. Ordonho e os seus guerreiros, preparados para reagirem a tal
sinal, avançam e, sem dificuldades, transpõem as portas das
muralhas e invadem rapidamente a fortaleza.
O estupefacto Mouro morre degolado por espada anónima.
O castelo é arrasado e os destroços são queimados.
O Rei dá protecção à simpática Ortiga. Gaia e as suas damas,
recolhem aos barcos.
A bordo de um deles, a Rainha observa, triste e chorosa, as chamas
consumindo o que resta do castelo.
O Rei estranha o seu choro e pergunta-lhe:
- Porque miras? Porque choras?
- Miro as ruínas daquele castelo, onde fui tão feliz. Choro a perda
daquele bom mouro que mataste.
A indignação do rei é grande e não é menor a do seu filho D.
Ordonho. Animado de insensata fúria, instiga o progenitor:
- Pai, não levemos connosco o demo...
O ultrajado marido, furibundo, saca da bainha o pesado montante e
brada:
- Mira, Gaia, mira, que miras pela última vez!
A espada, num golpe tremendo, cai separando a cabeça, que tomba nas
águas profundas. Com um pé, D. Ramiro empurra o corpo borda
fora...
A Cache é uma micro,
magnética, levem uma caneta para registarem no logbook. Tenham
cuidado com os Mugglers