OS GEOCACHERS DEVEM ESTAR LOUCOS!
No antigo Hospital Psiquiátrico de Paredes de Coura, situado na
freguesia de Moselos foi visto, nos últimos dias, por um
ex-funcionário do hospital, o francês Michel Lent que estivera aí
internado durante três anos até 2002, altura em que desapareceu,
aquando do encerramento do hospital.
Lent terá passado a maior parte do tempo a vaguear pela Europa sem
saber quem era e de onde vinha.
Há cerca de seis meses foi encontrado pela polícia, em Viana do
Castelo, num estado de confusão mental e subnutrido. Estes
remeteram-no aos cuidados das freiras da Congregação das Irmãs
Missionárias do Espírito Santo, no convento de Alvarães, que
cuidaram dele até há um mês atrás.
A comparação das impressões digitais e a colaboração da Interpol,
da polícia de portuguesa e da embaixada de França em Lisboa,
permitiram ao Gabinete de Segurança de Viana do Castelo assegurar
que, afinal, o homem de cabelo e barba brancos e olhos claros, é o
mesmo que estivera internado no Hospital Psiquiátrico de Paredes de
Coura.
No convento, Lent recuperou rapidamente. No dia-a-dia lia
muitíssimo, descrevia lugares exóticos ao pormenor, utilizava
frases de autores clássicos, sabia de filosofia, história e
ciência. Mostrava-se sempre muito educado e disponível. No entanto
passava tempo indeterminado na cozinha a olhar para os tupperwares
e a tirar-lhe as medidas. No exterior, sempre que passava por uma
árvore oca, buraco na parede ou fenda da rocha metia a mão lá
dentro e estava constantemente a dizer que precisava de comprar
pilhas recarregáveis e blocos de notas. Além disso escrevia
registos extensos de visitas a locais nas paredes, em cinco línguas
diferentes.
Estes comportamentos levaram a que as freiras, há cerca de um mês,
pedissem ajuda ao departamento de Saúde Mental de Viana do Castelo
para avaliar o seu estado. O psiquiatra Sabino Pinto, do Centro
Hospitalar do Alto Minho, acorreu a este pedido e falou com Lent
dizendo-lhe que a polícia já o identificara e que ele era Michel
Lent - o francês desaparecido. Ele respondeu: "Não sou eu, não é
esse o meu nome. Dizem que sou francês, mas não o sou. Sou
geocacher! Chamo-me Grenouille", nome que escreveu num papel numa
atitude alegadamente desesperada para convencer que o que dizia era
verdade.
Segundo o psiquiatra, Lent não perdeu a memória nem a lucidez.
"Somente perdeu a identidade, e pode ser que tenha tomado
conscientemente essa decisão".
Sabino Pinto informou a polícia de que Michel Lent dizia ser
geocacher. Esta contactou geocachers portugueses para aprofundar a
investigação, tendo sido verificada uma grande relação entre
Grenouille e diversos geocachers da região do Grande Porto,
partilhando cachadas, publicação de caches e participação em
eventos.
No dia seguinte à visita do médico, Grenouille fugiu de Alvarães,
tendo deixado uma carta às freiras, onde agradecia a hospitalidade
e dizia que ia procurar as suas raízes. Foi visto há dias no
abandonado Hospital Psiquiátrico de Paredes de Coura que o acolheu
até 2002, por um ex-funcionário da instituição, que alertou a
polícia.
O hospital inicialmente denominava-se Sanatório Marechal Carmona e
foi um dos maiores e melhores hospitais do Norte, no que se referia
ao tratamento de doenças pulmonares. Foi inaugurado em
16 de Setembro de 1934com
toda a pompa e circunstância.
Em 1955 o hospital recebe melhoramentos; dos 40 doentes iniciais
passa a ter 70. A partir de 1962 tinha 200 utentes, movimentando
anualmente 400 doentes. Contava 60 funcionários, destes, cerca de
65% eram naturais do concelho de Paredes de Coura.
Mais tarde o edifício albergou pessoas com problemas psiquiátricos,
recebendo a denominação de Hospital Psiquiátrico de Paredes de
Coura. Em 2002 foi encerrado, ficando à
mercê do tempo.
No hospital a polícia lançou-se à procura de
“Grenouille” nos diversos compartimentos do imóvel,
(anexos, cave e dois andares), desde a sala de máquinas,
arquivo, cozinha ainda equipada com fogão e panelões industriais,
refeitório com mesas e cadeiras, quartos com janelas gradeadas, à
recepção ainda com sinais de utilização. No arquivo documental nas
profundezas do edifício, faltava o processo clínico de Michel Lent.
Todo o arquivo estava remexido, bem como o mobiliário, os registos
de serviço telefónico, os contactos de antigos funcionários e
administradores, as actas de reuniões, os diários de enfermagem, os
desenhos e peças de artesanato e ainda uma maquete de grandes
dimensões.
A polícia não encontrou Michel Lent mas viu sinais da sua presença
por todo o edifício, nomeadamente extensos registo de visitas a
caches nas paredes. Ainda se encontram a investigar qual será o seu
paradeiro e que arquivos, documentos e ou outros elementos este
possa ter em sua posse.
Há pois ainda muito por esclarecer. A história de Lent, que está a
ser contada pela imprensa internacional e que foi destaque num
programa televisivo, não é tão clara quanto parece. A estranha
história do homem que se expressa em cinco idiomas (francês,
português, espanhol, italiano e inglês) e que faz registos extensos
de caches, ainda está longe do fim.
Na recepção do edifício deixou a primeira pista, que passou
despercebida pela polícia mas que para qualquer geocacher é um
sinal evidente de que Grenouille precisa de ajuda na procura da sua
identidade.
Este apelo é lançado a todos os geocachers destemidos que se devem
munir de lanternas, roupa e calçado resistentes.
Por favor... Não façam esta cache
de noite