
As lendas e os factos misturam-se frequentemente de forma tão intrincada e rebuscada que torna difícil compreender onde terminam umas e começam os outros. Zé do Telhado, de origens familiares humildes, foi militar durante um período muito controverso do século XIX em Portugal e foi um dos líderes insurretos da Revolução da Maria da Fonte. Colocou-se posteriormente ao serviço do general Sá da Bandeira e destacou-se pela sua bravura e qualidades militares, tendo mesmo sido condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, a mais importante Ordem Honorífica Portuguesa. Caiu depois em desgraça, acumulando dívidas, e foi expulso das forças armadas. Acabou então por formar uma quadrilha e tornou-se salteador, aterrorizando algumas zonas do norte de Portugal, em particular no Marão. Ficou contudo conhecido pelo seu carácter benemérito, tirando aos ricos e dando aos pobres, facto que lhe conferiu um lugar icónico na história portuguesa.
Numa das suas incursões, Zé do Telhado atacou a Quinta do Toural, em Canelas, à data uma das mais ricas da região de Arouca, tendo conseguido roubar um espólio muito considerável. Os proprietários, ao saberem da sua vinda, terão apenas tido tempo para se esconderem em moreias de palha. A tradição popular assegura que, após o ataque, a quadrilha subiu as encostas e seguiu até um bloco quartzítico conhecido localmente como A Mesa dos Ladrões, onde foi dividida a conquista. Existem contudo outros relatos que asseguram que, devido à ganância de alguns, estalou a discórdia entre todos e Zé do Telhado viu-se forçado a esconder parte do tesouro num sítio incógnito da zona.
Em 31 de Março de 1859, enquanto tentava fugir para o Brasil, Zé do Telhado foi apanhado pelas autoridades, tendo esperado pelo julgamento na Cadeia da Relação no Porto. Considerado culpado, foi condenado ao degredo perpétuo em África, onde veio a falecer, com 57 anos de idade, perto de Malanje. Não voltou a Portugal nem a Canelas, deixando muitos mistérios por esclarecer.
Um pouco afastado d’A Mesa dos Ladrões (ver waypoint) existe um fojo romano de exploração de ouro, pertencente à chamada Faixa Auro-antimonífera Dúrico-Beirã, onde é possível ver evidências da utilização do fogo como método de desmonte e estruturas na rocha onde se teriam ancorado sarilhos, roldanas e outras estruturas destinadas à extracção da mineralização do interior da mina. Na zona envolvente é ainda possível observar um conjunto sequencial de quatro poços, que poderiam corresponder a uma lavaria primitiva. Feliz ou infelizmente, esta mina d'ouro romana encontra-se em propriedade privada, pelo que o acesso é condicionado, sendo que o pequeno ecossistema é particularmente sensível.
Nas proximidades existe ainda um Conjunto de Conglomerados, resultante da erosão e desagregação das vertentes da bacia carbonífera há cerca de 300 Ma, onde é possível observar vários motivos de natureza sedimentológica, petrológica e paleogeográfica, e a Crista dos Galinheiros, formada por um processo de erosão diferencial condicionado pela distinta dureza das rochas ali aflorantes.
Nota: Todos os locais e descrições são reais e factuais. O espólio roubado da Quinta do Toural nunca foi encontrado.
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