Nasceu na cidade do Mindelo, Cabo Verde, mas é na Gafanha da Nazaré que tem estado a transformar os pilares de um viaduto em verdadeiros portais para as tradições de um povo ligado ao bacalhau.
Com cinquenta primaveras cumpridas no mês de abril, António Conceição é artista plástico e um contador de histórias, que vai desenterrando ao mesmo tempo que torna palpáveis, num pincelar preciso e sereno, as raízes profundas e salgadas da região.
Começou a desenhar era ainda uma criança e, aos 14 anos, começou a pintar retratos, perpetuando as imagens de estrangeiros que visitavam Cabo Verde. As Artes foram sempre o seu plano A, tendo chegado a estudar Construção Civil – que também tem origem no desenho, conta – e, após terminar os estudos, aguardou pela concretização de um sonho: vir para Portugal aprofundar conhecimentos. Foi no início do novo milénio que se viu a caminho do Porto, com uma bolsa de estudos da Cooperação Portuguesa para estudar Belas Artes.
Hoje, serão muitos os que já o terão visto, envolto em tintas e pincéis, a retratar pedaços de história nos pilares do viaduto que dá acesso ao Cais dos Bacalhoeiros. Ali, erguem-se as antigas secas de bacalhau e as mulheres que nelas trabalhavam e que Maria Lamas retrata, no livro As Mulheres do Meu País, como “desembaraçadas, faladoras e alegres”. António diz ser um mediador – alguém que materializa uma obra, que não é sua, mas “nossa, das pessoas, do mundo”, que nasce de ideias, influências e referências coletivas. “O ciclo da criatividade está sempre em movimento”, diz, e são muitos os que param junto ao artista para partilhar histórias e vivências, em jeito de cocriação. No fundo, estes murais são uma obra de todos, para que celebremos o passado e as gentes que tornaram possível o presente.
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