O Santuário do Bom Jesus do Monte (também referido como Santuário do Bom Jesus de Braga) é um santuário católico dedicado ao Senhor Bom Jesus e constitui-se num conjunto arquitetónico-paisagístico integrado por uma igreja, um escadório onde se desenvolve a Via Sacra do Bom Jesus, uma área de mata (Parque do Bom Jesus), alguns hotéis e um funicular (Elevador do Bom Jesus).
A sua peculiar disposição serviu de inspiração para outras construções, como por exemplo o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos na cidade de Congonhas, em Minas Gerais, no Brasil.
Está classificado desde 1970 como Imóvel de Interesse Público e a Direção Regional de Cultura do Norte apresentou em 24 de novembro de 2016 proposta para a ampliação da classificação e eventual reclassificação para Monumento Nacional. Em 20 de julho de 2015, foi apresentada a candidatura do Bom Jesus a Património Mundial da Humanidade na Comissão Nacional da Unesco.
O conjunto arquitetónico do Bom Jesus do Monte, ex-libris da cidade de Braga, é, talvez, o mais majestoso, o mais poético e o mais monumental sacro-monte construído na Europa, onde predomina a arquitetura religiosa, barroca, rococó e neoclássica.
Desde que a presença humana se fez sentir na colina sagrada do Bom Jesus, a partir do século XIV, se fizeram notar os romeiros movendo-se a pé, pelo elevador ou com precários meios de transporte, tornando esta estância barroca como uma das maiores rotas sagradas, pelo seu valor penitencial, ritual de purificação, ou pelo seu carácter de tradição popular, lazer e repouso.
Escadórios
Os Escadórios do Bom Jesus do Montel ligam a parte alta da cidade ao Santuário, vencendo um desnível de 116 metros de altura, e seguem um percurso paralelo ao do Elevador do Bom Jesus.
Estão divididos em três grandes lanços: o chamado "Escadório do Pórtico", o "Escadório dos Cinco Sentidos" e o "Escadório das Três Virtudes" e ao longo dos escadórios erguem-se as capelas que representam a Via Sacra do Bom Jesus. Os escadórios culminam na Fonte do Pelicano, a que se segue a Igreja, num conjunto total de 581 Degraus.
Basílica
O templo atual vem substituir o anterior, concebido em vida de D. Rodrigo de Moura Teles, demolido em 1788. Este prelado bracarense contribuiu para o engrandecimento da estância, custeando uma nova igreja, segundo um projeto do arquiteto Manuel Pinto de Vilalobos, que se situava no Terreiro de Moisés.
Localizava-se o anterior templo entre o Escadório das Virtudes e a Fonte do Pelicano. Era um pequeno, elegante e circular templo de estilo italiano, renascentista, de arquitetura perfeita. Era uma construção elipsoidal, de forma arredondada, com 8 pilastras salientes em contraforte, tendo as obras do templo sido dadas como concluídas em 1725.
O atual santuário, da autoria do genial arquiteto bracarense Carlos Amarante, é um significativo exemplar e uma das primeiras edificações do neoclássico português.
A primeira pedra foi lançada no dia 1 de junho de 1784, no tempo do pontificado do arcebispo-príncipe D. Gaspar de Bragança, devido à benemerência do bracarense Pedro José da Silva, que colocou a última pedra do templo em 20 de Setembro de 1811, mas cuja sagração ficaria reservada para 10 de Agosto de 1857. Na sessão de mesa da confraria do dia 1 de Julho de 1781, indicam-se, claramente, os motivos da construção da nova igreja maior do santuário do Bom Jesus: porque a anterior capela prometia pouca duração; as paredes não aguentavam a abóbada; não cabem todos os romeiros que acorrem ao santuário por causa do jubileu; não oferece ao povo que vem àquele santuário a vista e é incómoda aos peregrinos.
Elevador
O Elevador do Bom Jesus, é um funicular que liga a parte alta da cidade de Braga ao Santuário do Bom Jesus do Monte.
O elevador segue um percurso paralelo à escadaria monumental, conhecida como Escadórios do Bom Jesus, e termina na sua parte superior junto à estátua equestre de São Longuinhos.
O elevador funciona sobre uma rampa e é constituído por duas cabines independentes, ligadas entre si por um sistema funicular do tipo 'endless rope'.
O seu funcionamento baseia-se no sistema de contrapeso de água. As cabines têm um depósito que é cheio de água, quando estão no nível superior, e vazio no inferior. A diferença de pesos obtida permite a deslocação. No elevador do Bom Jesus, a quantidade de água é calculada em função do número de passageiros que pretendem efectuar viagem em cada sentido.
Sendo o primeiro funicular construído na Península Ibérica, é atualmente o mais antigo, em serviço, no mundo a utilizar o sistema de contrapeso de água.
Parque e Jardins
Em tempos existiu, junto das capelas do Pretório de Pilatos, da Subida ao Calvário e do Miradouro, a Fonte de Júpiter, atribuída a André Soares, mais tarde transferida para perto do Hotel do Templo e, em 2012, para a entrada Este da estância (onde se encontra a cache), espécie de anfitrião aos milhões de visitantes que, anualmente, demandam estas paragens. Caracterizam esta fonte os concheados barrocos, a exuberância das formas, a estrela, as divisas de Júpiter contendo numa mão um raio. Belo exemplar do barroco setecentista.
Mais à frente nasceu a tradição, que remonta ao século XIX, de "ver Braga por um canudo". O "canudo" do Bom Jesus é um bilhete-postal, uma singular varanda com vista para o infinito azul. Através desta janela voltada para o exterior é possível contemplar os montes envolventes e a cidade. É conhecida a oferta de um telescópio ao Bom Jesus do Monte algures em 1862, colocado num miradouro no lado norte do Adro, perto do Hotel do Elevador, voltado para a cidade dando origem ao dito "ver Braga por um canudo", imortalizado por Rafael Bordalo Pinheiro no Álbum de Caricaturas António Maria. Mais tarde efetuou-se a aquisição deste novo óculo de longo alcance, dotado de características únicas e de grande capacidade técnica, bem como uma lente especial ampliadora. O telescópio foi adquirido, em 1924, à casa alemã Optische Anstalt C. P. Goerz, A.G., de Berlim – Friedenau, com uma objetiva de 130 milímetros de diâmetro. Com este telescópio terrestre foram despendidos dezasseis mil oitocentos e quarenta e três escudos e quarenta e três centavos, incluindo os direitos alfandegários e transportes. Inicialmente, o "canudo" foi colocado na Meia Laranja e por cada observação de cinco minutos o forasteiro desembolsaria cinquenta centavos. Dada a afluência de público a esta infraestrutura, o monóculo recebeu uma cobertura em ferro, em 1944. O "Canudo" mantém a traça original, concretamente, o aspeto estético, os tons preto e branco sujo, bem como as funções óticas originais e toda a sua estrutura mecânica, tripé, suporte de amarração, carcaça, engrenagem da ocular e objetiva.
Num plano superior à casa das estampas encontra-se uma das várias grutas existentes pela estância do Bom Jesus, construída nos primeiros anos do século XX. Esta gruta é iniciada em 1902 e é abobadada, um verdadeiro retiro melancólico e fresco, que remata a grandiosa obra de uma pequena lagoa, guarnecida de plantas aquáticas, onde se ouve o murmúrio das águas.
Pelo santuário do Bom Jesus conseguimos ainda encontrar três coretos em localizações distintas: o primeiro destes localiza-se por cima da gruta de Ernest Korrodi (junto à casa das estampas); o segundo localiza-se em frente à Casa das Estampas, na Esplanada do Templo; o terceiro coreto, mais simples e de forma octogonal, localiza-se perto do lago num local mais resguardado.
A cerca ou mata do Bom Jesus do Monte, bem romântica e frondosíssima, sempre constituiu um refúgio para os amantes desta estância. O visitante neste pitoresco e paradisíaco lugar pode gozar de múltiplos motivos que convidam ao descanso e à meditação: a diversidade e raridade das suas espécies de árvores; a vegetação que pulula (urzes, musgos, heras); os retiros amenos; o denso bosque; as sebes rústicas; as grutas; a água rompendo por toda a parte em catadupas; as fontes que jorram; as ruas, caminhos e veredas; os mirantes sobre penhascos; os quiosques; os belvederes; as pontes rústicas; os viveiros de plantas; as correntes de água que se despenham ou saltam ruidosas por entre as fragas; os lagos esbeltamente talhados com seus barcos de remos; os altos taludes revestidos de árvores, arbustos e flores. Os diferentes motivos da mata, o lago, os quiosques, as pontes, os caramanchões, as grutas, denotam verdadeira influência de França, onde não são estranhos os livros franceses existentes na biblioteca, nomeadamente, Guide Pratique du Tracé et de L’Ornementation des Jardins d’agrément, par Théodore Bona, 4ª ed., Paris, Eugéne Lacroix éditeur, com 238 figuras, onde muitos pormenores se encontram na mata.